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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Literatura de Cordel

Hoje, na E.M.E.B. Menino Jesus, em São Benedito, ocorreu uma pequena culminância sobre a Literatura de Cordel. Foram feitas várias atividades relacionadas ao Projeto Gestar, organizadas pelas professoras de Português.

Fui convidado para fazer a abertura do evento, que contou com a presença de alguns coordenadores da Secretaria de Educação, e do Radialista e cordelista Bené Barros.

Na ocasião, falei um pouco de como passei a gostar de Literatura de cordel. Falei da relação coma as cantorias, e declamei dois poemas: Menina Perdida e O Boi Zebu e as Formigas. O primeiro poema é de Sebastião da Silva e Moacir Laurentino, do disco “Violas da minha terra”. Composto em sextilha, de sete sílabas em cada um dos seis versos, e cantado ao som da viola, narra a história de Edinete, criança de quatro anos de idade que se perde e morre de fome e de sede no mato, a seis quilômetros da sua casa. Relembro que em minha infancia, no início dos anos 80, era muito comum ouvir em forma de canção, e no qual guardei em minha memória.

O segundo é um poema de Patativa do Assaré, que fala sobre as lutas por nossos direitos, em uma linguagem bem Regional, e de uma inteligencia fora do comum. Abaixo, na integra os dois poemas. Boa leitura!!!!


Menina Perdida - Sebastião da Silva e Moacir Laurentino

Dos poemas que escrevi
por meio da inspiração.
Este é o mais comovente,
porque tem a narração
de um dos casos mais triste
que já se viu no sertão.

Trata-se de uma menina
de uma beleza extrema.
De quatro anos de idade,
com quem se deu o problema
e tornou-se a central figura,
das emoções do poema.

Edinete era seu nome
que lembramos com pesares
Filha de Rita Alzira
e Expedito Soares
Casal pobre, mas bem quisto
por todos familiares

No município Riacho
dos Cavalos terra amena
do sertão paraibano
aonde os pais da pequena
moram e ainda hoje
lamentam a triste cena

Vinte e sete de novembro
do ano setenta e seis.
Pelas três horas da tarde
ou pouco antes talvez
os pais de Edinete a viram
viva pela última vez.

Pois se a criança brincando
no pátio da moradia,
se entretendo com árvores
ou com animais que via
e aos pouco entrou no mato
sem saber pra onde ia.

Quando a mamãe sentiu falta
da sua filha querida
Chamo-a diversas vezes
já bastante comovida
Aí notou que a criança
Já se achava perdida

Alarmou pra vizinhança
e começou a chegar gente
pra procurar a criança
todos apressadamente
anoiteceu e ninguém
encontrou a inocente

Assim passaram três dias
procurando sem parar
De oitenta a cem pessoas
podiam se calcular
Todos a sua procura
mas ninguém pode encontrar

Na manhã do dia trinta
já todos sem esperança.
No lugar Serra dos Bois
num talhado que se avança,
neste local esquisito,
acharam morta a criança.

Morreu de fome e de sede
em situação singela,
mais ou menos seis quilômetros
do local pra casa dela.
As folhas foram seu leito
e a lua serviu de vela.

Quando espalhou-se a notícia
que a menina faleceu
Foi muita gente ao local
aonde a morte a venceu
Vão fazer uma igrejinha
no canto que ela morreu

Todos seus irmãos lamentam
seus pais lamentam também
Chorou toda vizinhança
porque lhe queriam bem
e Deus aumentou as contas 
dos muitos anjos que tem


O Boi Zebu e as Formigas - Patativa do Assaré

Um boi Zebu certa vez
Moiadinho de suo,
Querem sabê o que ele fez
Temendo o calor do só?
Entendeu de demorá
E uns minuto cuchilá
Na sombra de um juazêro
Que havia dentro da mata
E firmou as quatro pata
Em riba de um formiguêro.

Já se sabe que a formiga
Cumpre a sua obrigação,
Uma com outra não briga
Veve em perfeita união
Paciente trabaiando
Suas foia carregando
Um grande inzempro revela
Naquele seu vai e vem
E não mexe com ninguém
Se ninguém mexe com ela.

Por isso com a chegada
Daquele grande animá
Todas ficaro zangada,
Começaro a se acanhá
E foro se reunindo
Nas perna do boi subindo,
Constantemente a subi,
Mas tão devagá andava
Que no começo não dava
Pra de nada senti.

Ma porém como a formiga
Em todo canto se soca,
Dos casco até a barriga
Começou a frivioca
E no corpo se espaiando
O zebu foi se zangando
E os casco no chão batia.
Ma porém não miorava,
Quanto mais coice ele dava
Mais formiga aparecia.

Com essa formigaria
Tudo picando sem dó,
O lombo do boi ardia
Mais do que na luz do só
E ele zangado as patada,
Mais força incorporava,
O zebu não tava bem,
Quando ele matava cem,
Chegava mais de quinhenta.

Com a feição de guerrêra
Uma formiga animada
Gritou para as companhêra:
-Vamo minhas camarada
Acaba com os capricho
Deste ignorante bicho
Com a nossa força comum
Defendendo o formiguêro
Nos somo muito miero
E este zebu é só um.

Tanta formiga chegou
Que a terra ali ficou cheia
Formiga de toda cô
Preta, amarela e vermêa
No boi zebu se espaiando
Cutucando e pinicando
Aqui e ali tinha um moio
E ele com grande fadiga
Pruquê já tinha formiga
Até por dentro dos óio.

Com o lombo todo ardendo
Daquele grande aperreio
O zebu saiu correndo
Fungando e berrando feio
E as formiga inocente
Mostraro pra toda gente
Esta lição de morá
Contra a farta de respeito
Cada um tem seu direito
Até nas leis naturá

As formiga a defendê
Sua casa, o formiguêro,
Botando o boi pra corrê
Da sombra do juazêro,
Mostraro nessa lição
Quanto pode a união;
Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê,
E as formiga é o povo.

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