Curiosidade
e investigação são as palavras-chave para uma aula de sucesso
Professores
de Ciências sabem como sua área pode ser fascinante. Ela explica o
funcionamento da natureza, do Universo, do corpo humano, colabora para o
desenvolvimento de tecnologias. Porém, nem sempre essa beleza é transmitida
para a sala de aula.
Segundo a
professora Lilian Bacich, assessora pedagógica de Ciências do Time de Autores
NOVA ESCOLA, existe uma espécie de "tradição" em dar aulas
expositivas, focadas nos conteúdos. E isso nem sempre consegue engajar os
alunos. “O ensino das Ciências deve estar muito focado na investigação”,
aconselha. Pode parecer uma afirmação óbvia, mas em muitos casos, os docentes
acabam caindo na pegadinha da tradição expositiva e organizam a aula de uma
maneira que não permite a exploração pelos alunos.
1.
Contextualização
O professor
deve começar a aula fazendo um levantamento do que o aluno sabe. “Ou mostrando
coisas que o aluno pode não saber diretamente, mas que contam com concepções
prévias e podem estar envolvidas na temática”, lembra Lilian. Vale começar com
a leitura de um texto ou notícia, a interpretação de uma imagem, uma roda de
conversa inicial. Algo que ajude a contextualizar os estudantes em relação aos
conceitos que serão trabalhados naquela aula.
2. Questão
disparadora
“É o que
mobiliza o aluno para querer estudar mais”, resume Lilian. Dessa maneira, deve
ser uma pergunta que precise de uma resposta mais complexa do que “sim” ou
“não”. Uma sugestão é fazer a pergunta para um colega. “Se a resposta dele for
muito simples, é um indicador de que a pergunta não sustenta uma aula de 50
minutos”, indica.
A professora
dá o exemplo de uma aula sobre classificação dos animais para crianças do 3º ano.
Neste caso, a questão disparadora foi: “Que critérios eu posso usar para
organizar os animais em grupos?”. Com base nela, os estudantes começaram a
pensar em como poderiam organizar os animais. Em geral, são acionados critérios
do senso comum e dos conhecimentos cotidianos desses alunos nesse momento. E
tudo bem. “Essa questão disparadora vai acionar os conhecimentos cotidianos dos
alunos e também vai despertar a curiosidade para investigar”, diz Lilian.
3. Mão na
massa
É o coração
da aula de Ciências e deve ocupar a maior parte de seu tempo. Neste momento, o
professor deve propor uma atividade para que o aluno possa investigar, usar
toda essa curiosidade que foi aguçada, e lidar com os conceitos. Conhecendo
seus alunos, vale pensar em atividades que a turma dê conta de produzir em 50
minutos. “Não adianta colocar um mundo de atividades dentro de um só plano de
aula, ou pensar em algo que demande muita energia e tempo. É uma questão de
gestão do tempo, mirando nos objetivos da aula”, comenta Lilian.
Um equívoco
comum entre professores é deixar o momento da experimentação para depois da
explicação. Primeiro, o professor sistematiza os conceitos, e depois os alunos
partem para a prática. Herança do estilo tradicional de dar aula. “Dessa
maneira, não é uma construção de conhecimento. O aluno já vai receber a
informação correta e depois vai só testar”, critica Lilian. Para que haja uma
construção ativa de conhecimento, o adequado é que primeiro os estudantes façam
os testes e produções e, a partir da experiência, organizem seus aprendizados
de maneira sistematizada.
4.
Sistematização
Na
sistematização, o professor deve retomar a questão disparadora. “Diante de tudo
o que foi estudado, pesquisado e debatido, onde nós chegamos?” indica Lilian. É
o momento de amarrar a aula, ligar os pontos daquilo que foi trabalhado,
estabelecer as conexões conceituais e procedimentais.
Também é o
momento de avaliar os avanços dos alunos. “Ao mesmo tempo em que o professor
auxilia os alunos a perceber aqueles conceitos trabalhados na mão na massa,
ainda que de maneira desorganizada, ele também avalia se o aluno chegou até o
ponto que o professor estabeleceu, que era o objetivo da aula”, aponta a
professora.
Isso pode
ser feito de diferentes maneiras: em uma grande roda de conversa, da qual se
tiram os pontos principais do que foi descoberto e aprendido, ajudando os
alunos a escreverem um texto coletivo que envolva os conhecimentos, um mapa
conceitual, entre outras possibilidades.
Vale lembrar
que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também compartilha dessa visão do
estudante como investigador, e organizar uma aula em que o aluno é o
protagonista do processo colabora muito para sua aplicação. "O ensino de
Ciências aparece na Base com um grande foco em despertar no aluno essa
curiosidade, de fazê-lo se perguntar o que é isso, como isso foi construído,
como isso se relaciona com a minha vida", lembra Lilian.
Outra
vantagem é que, na BNCC, conteúdos antes focados no Ensino Fundamental 2 agora
estão espalhados por todos os anos, com diferentes intensidades. Para os
professores dos anos iniciais, que nem sempre têm formação específica na área,
esse formato de aula ajuda a se livrar das amarras do ensino
tradicional. “O professor não precisa ser o detentor do conhecimento na
sua amplitude. Ele pode descobrir as coisas juntamente com seus alunos. Aquele
professor que trabalha há 15 anos da mesma maneira, que tem a sensação de que
tudo o que ele vai ensinar, ele já sabe de trás para frente, precisa passar por
um processo de desconstrução”, aconselha a professora.
FONTE:
https://novaescola.org.br/conteudo/11671/como-preparar-uma-boa-aula-de-ciencias
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