Web Radio Sinfonia Jovem

quinta-feira, 5 de março de 2020

A época do ouro


         Com a descoberta de metais preciosos pelos bandeirantes, iniciou-se no Brasil um novo ciclo econômico: a mineração ou ciclo do ouro, que no século XVIII provocou grandes mudanças na colônia e na política da metrópole.
A exploração do ouro ocorria de duas formas:
· Faisqueiras: pequenas extrações realizadas por uma pessoa apenas ou com um pequeno número de escravos. O ouro era extraído de depósitos superficiais, geralmente nas areias ou nos cascalhos dos rios e riachos. Era o ouro de lavagem.
· Lavras: estabelecimentos maiores onde era usado grande número de escravos. O ouro era extraído das vertentes das colinas, com instrumentos especializados.
O rigor da metrópole
         Para tirar maior proveito da exploração do ouro, a metrópole portuguesa agiu com bastante rigor não só na fiscalização, como também na cobrança dos impostos. Criou um órgão, a Intendência das Minas, para fiscalizar a administração, a distribuição das jazidas e a cobrança dos impostos.
O quinto para a Coroa.
          Portugal cobrava 20% de todo o ouro explorado; era o imposto do quinto. Para evitar -. fraudes e melhor fiscalizar a cobrança desse imposto, Portugal, em 1719, ordenou que fossem instaladas as Casas de Fundição. Os mineradores deveriam levar o ouro para uma Casa de Fundição, onde ele seria fundido em barras e já retirada a parte da Coroa. Era proibida a circulação de ouro em pó ou em pepitas. Quem não cumprisse esse regulamento , poderia ser preso, perder todos os seus bens ou ser degredado.
A descoberta dos diamantes
         Em 1729, foram descobertos diamantes no Arraial do Tijuco (atual Diamantina, em Minas Gerais). A região foi demarcada e isolada, criando-se o Distrito Diamantino.
         A exploração dos diamantes foi dada a homens de posse, que eram obrigados a pagar uma quantia anual fixa a Portugal. Mais tarde, a exploração dos diamantes ficou sob o controle direto da metrópole.
Aumentam os impostos
         Em meados do século XVIII, a mineração atingiu seu apogeu. O imposto do quinto foi fixado em 100 arrobas de ouro por ano, o que equivalia a 1.500 quilos.
         Enquanto a mineração manteve uma alta produção, os impostos eram pagos regularmente. Entretanto, no final do século, a mineração começou a declinar, não pelo esgotamento das jazidas, mas pelas dificuldades técnicas que os mineiros tinham para explorar o ouro de maior profundidade.
         Como a quantidade de ouro explorada era -. menor, os mineradores não conseguiam pagar as cotas estabelecidas. Portugal criou, então, a derrama, que era a cobrança dos impostos atrasados. Essa medida portuguesa provocou um profundo descontentamento, gerando várias revoltas, dentre as quais se destaca a Inconfidência Mineira.
Com base no texto, responda:
I – Quais eram as 2 formas de extração de ouro no Brasil, no século XVIII?
II – A metrópole portuguesa agiu com bastante rigor não só na fiscalização, como também na ___________ _________________. Criou um órgão, a ______________________________, para fiscalizar a administração, a distribuição das jazidas e a __________________________________ .
III – Como se chamava o imposto de 20% de todo o ouro explorado, cobrado por Portugal?
IV – Como ocorria a fiscalização da cobrança dos impostos sobre o ouro?
V – Coloque F para Falso e V para verdadeiro:
a) Além de ouro, também se descobriram jazidas de diamantes no Brasil. (    )
b) A exploração de diamantes foi permitida a toda a população, inclusive escravos.(    )
c) Quando a mineração no Brasil atingiu seu apogeu, o imposto do quinto foi fixado em 1.500 arrobas de ouro por ano. (    )
d) Quando a mineração começou a entrar em crise, muitos colonos ficaram devendo impostos ao governo português. (    )
e) A descoberta de metais preciosos não provou nenhuma mudança na colônia e na política da metrópole.
VI – Para a cobrança de impostos atrasados, Portugal criou a ______________. Essa medida provocou profundo ____________________, gerando várias ________________ , dentre as quais destaca a ____________________.

Texto complementar: Atenas e Esparta


As duas cidades-estados mais importantes da Grécia foram Atenas e Esparta. O texto que você vai ler apresenta algumas diferenças importantes entre elas, em torno dos séculos VI a. C. e IV a. C.

 “Grande parte dos habitantes urbanos [de Atenas] tinha seus interesses econômicos, no todo ou em parte, na agricultura. (...) Na cidade viviam umas centenas de famílias de grande riqueza: cidadãos que viviam do rendimento de suas propriedades. (...) Os ricos eram essencialmente donos de propriedades (...) disponíveis para se dedicar à política, ao estudo ou à simples ociosidade (...)
            A  maioria esmagadora dos atenienses que possuíssem um escravo, dois ou nenhum tratava de ganhar a vida, e muitos deles não conseguiam passar de um baixíssimo nível de vida. (...)
            A participação direta era a chave da democracia ateniense: (...). Na assembléia soberana, cuja autoridade era essencialmente integral, todo cidadão podia não só assistir sempre que quisesse, como tinha o direito de intervir no debate, propor emendas, votar propostas sobre guerra e paz, impostos, regulamentação da religião, recrutamento de tropas, obras públicas, tratados e negociações. (...)
            Nenhum cidadão espartano é recordado por qualquer atividade cultural. (...)
            O que manteve a servidão dos hilotas e evitou rebeliões mais freqüentes foi a emergência de Esparta como um acampamento armado. (...) O corpo de cidadãos de Esparta passou a ser soldadesca profissional, criados desde a infância para duas aptidões: perícia militar e obediência absoluta (...) [que] transformaram Esparta numa poderosa potência.”
 (FINLEY, M. I. Os gregos antigos. Lisboa: Edições 70, 1988, pp. 61-73)

A partir do que é apresentado pelo autor do texto acima, procure responder:

I – Qual era a atividade econômica a que quase todos os atenienses estavam ligados?
II – Quem eram os ricos em Atenas?
III – Quais eram as atividades a que se dedicavam os atenienses ricos?
IV – Todos as atenienses que tinham escravos eram ricos? Justifique sua resposta.
V – Os cidadãos atenienses pobres tinham o direito de participar dos debates democráticos?
VI – Compare Esparta e Atenas em termos de realizações culturais.
VII – Por que os cidadãos espartanos viviam armados e participando do exército?
VIII – Cite dois objetivos principais da educação espartana.

Um mundo sem nações?

Afinal, o que é uma nação? Para nós, brasileiros, até que não é tão complicado responder a essa questão: em nosso país, não temos situação como, por exemplo, a Bélgica, em que duas identidades nacionais dividem o mesmo território e compõem o Estado nacional, ou a Rússia, que congrega dezenas de nacionalidades; não temos, também, situações como a Coreia, em que a mesma nação forma dois Estados nacionais, ou, segundo alguns, os árabes, que seriam uma nação espalhada por dezenas de estados nacionais, em três continentes.
Definir um Estado nacional é fácil, uma vez que se trata de uma entidade jurídica. Já conceituar nação, não é tão simples. Para uns trata-se de uma identidade cultural (língua, costumes, religião comuns). Acho pobre e falha essa visão. O que são costumes comuns? Seria a comida, por exemplo? Nesse caso, comer macarrão e pizza identificaria os italianos? Seria curioso, pois os moradores do Vêneto (região de onde veio a maior parte dos imigrantes italianos para o Brasil) comia polenta em lugar de massa e só aprenderam a comer pizza quando os soldados americanos libertaram o país dos alemães, nos anos 1940. [...]
Por outro lado, é claro que uma identidade nacional não pode ser vinculada a supostas preferências nacionais, ou hábitos de certos grupos, como querem alguns cientistas sociais um pouco apressados. É inconcebível a ideia de que gostar de bumbum, receber com cafezinho e tomar caipirinha seriam traços identificadores do brasileiro.
[...]
De todas as definições possíveis eu ficaria com aquela que diz que nação é o povo que tem consciência de um passado histórico comum. Passado real ou imaginado. Para efeito dessa consciência não há como separar o concreto do construído: se os americanos se sentem descendentes do Mayflower, os judeus de Davi e os argentinos dos ingleses e se isso alimenta o seu imaginário, isso já é uma consciência de um passado comum.
Volta a meia a questão nacional reaparece. Entre nós andou causando polêmica e tentativa do governo de capitalizar o patriotismo e a identidade nacional, confundir o sentimento de pertinência com a identificação com ele. Ora, nada mais velho do que misturar o baralho: sem querer comparar, todos os governos autoritários tinham frases do tipo Brasil, ame-o ou deixe-o. [...]
No mundo das corporações multinacionais, as nações que pareciam esta destinadas ao lixo da História, se redesenham e buscam se afirmar com base
em um passado comum cada vez mais imaginário. E o mundo sem nações, tão desejado por aqueles que pensam em uma humanidade única e uma cidadania planetária, parece se distanciar cada vez mais do nosso horizonte.

Pinsky, Jaime. Por que gostamos de História. São Paulo: Editora Contexto, 2013. p.79-8

Arte Indígena

O cotidiano indígena é tomado pelas atividades voltadas para a subsistência, como caçar, pescar, plantar, cozinhar – algumas são tarefas masculinas, outras, femininas -, e também para a produção de artefatos de uso doméstico, como cestos, potes em argila, flechas, redes etc.
Quando há ritual, alguns trabalham na confecção, de produtos ritualísticos, como máscaras, coroas, pulseiras, colares etc. Esses produtos revelam status e posição social.
O rigor no acabamento desses produtos é algo que todos da aldeia buscam.
Existem algumas regras para a confecção desses artefatos: alguns devem ser confeccionados por mulheres; outros, por homens; alguns exigem penas de determinados pássaros; a combinação de cores é estudada de forma a aparentar delicadeza etc.
Alguns povos indígenas se destacam em alguns segmentos de produção, como é o caso, por exemplo, dos Kaapor (Urubu), cuja arte plumária é dotada de rara beleza e de primor técnico, principalmente na colagem das plumas e couros emplumados.
Na cerimônia de nomeação de uma criança indígena, os Kaapór fazem questão de usar seus elaborados adereços plumários: diadema, braçadeira, pulseira, brincos, colar etc. Nesse dia a criança recebe um nome do tio materno e depois ela é apresentada à sociedade indígena com seu novo nome e usando um diadema de plumas belíssimo na cabeça.
Outro exemplo de destaque é o trabalho das índias Kadiwéu, que produzem uma das cerâmicas consideradas mais bonitas da arte indígena brasileira. É um trabalho que foi ensinado de geração a geração e feito com um toque muito pessoal. Muitas vezes a mulher Kadiwéu imprime no seu pote de cerâmica o mesmo desenho que faz em seu corpo para os rituais.
O trabalho é todo delas: elas mesmas apanham a argila, carregam, amassam e moldam com as mãos, transformando-a em potes, vasos, peças utilitárias em forma de animais etc., tudo envolvido por um colorido próprio, de tons quentes, com grafismos contornados por tinta branca.
Seria impossível falar aqui sobre toda a riqueza da arte indígena brasileira, citar a produção de todos os povos, mas seria possível afirmar que quem pesquisa esse assunto sempre se depara com a beleza, o aprimoramento técnico e a riqueza de significados da arte produzida pelos mais de duzentos povos indígenas do Brasil.

(BRIOSCHI, Gabriela. Arte hoje. São Paulo: FTD, 2003; p. 92)

Análise e interpretação de uma entrevista

A análise de um depoimento de História oral – realizada seja pelo próprio pesquisador, seja por terceiros – deve considerar a fonte como um todo. É preciso saber ‘’ouvir’’ o que a entrevista tem a dizer no que diz respeito às condições de sua produção quando no que diz respeito à narrativa do entrevistado: o que nos revela sua visão dos acontecimentos e de sua própria história de vida acerca do tema, de sua geração, de seu grupo, das formas possíveis de conceber o mundo etc. Tomar a entrevista como um todo significa ouvi-la ou lê-la do início ao fim, observando como as partes se relacionam com o todo e como essa relação vai se constituindo significados sobre o passado e o presente e sobre a própria entrevista. [...]
Esse modo de interpretar pode ser adotado na análise de qualquer tipo de fonte e não se afasta muito da lógica do círculo hermenêutico: o todo fornece sentido às partes, e vice-versa. Por exemplo, em uma frase compreende-se o sentido de uma palavra à medida que tomamos sua relação com toda a frase; inversamente, compreende-se o sentido da frase à medida que compreendemos o sentido das palavras. Em entrevista, compreendermos os conceitos utilizados pelo entrevistado, as formas como se refere a determinados acontecimentos ou situações, as lembranças cristalizadas, os exemplos, os cacoetes de linguagem etc., à medida que tomamos sua relação com o depoimento como um todo, e vice-versa. É nesse círculo que surge o sentido.
É importante lembrar também que as palavras empregadas pelo entrevistado são importantes para interpretação de sua narrativa. A escolha de determinadas palavras e formas de expressar informa sobre a visão mundo e o campo de possibilidade aberto àquele indivíduo, em razão de sua experiência de vida, sua formação, seu meio etc. Se ele escolhe determinadas palavras, e não outras, é porque é daquela forma que se percebe o sentido dos acontecimentos ou das situações sobre as quais está falando. Por isso não cabe acrescentar novas palavras, ou substituir as que são usadas por sinônimos. Ao interpretar uma entrevista, convém ser fiel à lógica e às escolhas do entrevistado.
Há momentos nas entrevistas de História oral – não em todas – em que se pode perceber que a narrativa de determinados acontecimento e situações cristalizar realidade que são condensadas e carregadas de sentido. Nesses
momentos, a narrativa do entrevistado vai além do caso particular e oferecer uma chave para a compreensão da realidade. Quando isso acontece, ela fornece passagens de tal peso que são ‘’citáveis’’. Quase toda entrevista contém histórias. Para Lutz Niethammer, essas histórias ‘’são o grande tesouro da história oral, porque nela se fundem, esteticamente, declarações objetivas e de sentido.’’ Boas histórias, acrescenta, não se deixam traduzir por uma ‘’moral’’ [...]. Apresentadas ao público com propostas de interpretação histórica, permitem que haja uma ampliação de conhecimento. No processo de análise da fonte oral, cabe, pois, atentar para a ocorrência dessas narrativas especialmente pregnantes.
O conteúdo de uma entrevista de História oral sempre estará condicionando àquele caso particular. A narrativa especialmente ‘’citável’’ de determinado acontecimento ou situação terá de ser muito bem contextualizado: quem é seu autor (qualificação do entrevistado)? Em que momento da entrevista contou aquele fato daquela maneira? Que outras circunstâncias são importantes para se compreender o que foi dito? Etc. A contextualização é necessária para se conhecer a própria qualidade do trecho ‘’citável’’.

PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008. p. 187-186

segunda-feira, 2 de março de 2020

Brasil, país multiétnico

Multiétnico é um termo que define a presença simultânea em um mesmo espaço físico de diferentes grupos étnicos distintos por seus patrimônios culturais. Mas nem sempre o Estado republicano e a sociedade brasileira aceitaram positivamente a presença de culturas étnicas minoritárias no território nacional. A trajetória de muitos grupos imigrantes deve, portanto, ser interpretada também sob o prisma da intolerância, da indiferença às diferenças culturais [...]. O fato de o emigrante ser tratado como um “eterno estrangeiro” implica, na maioria das vezes, exclusão social e auto-enclaustramento.
A integração dos imigrantes italianos na comunidade de destino exigiu, por partes deles, a adoção de modelos de comportamento que, adaptados, contribuíram para reduzir progressivamente a heterogeneidade cultural. Ao governo republicano não interessava, de fato, que os imigrantes preservassem seus valores de origem, razão pela qual foram estabelecidas, com frequência, leis de incentivo à nacionalização dos grupos estrangeiros. No entanto, o processo de assimilação se fez de maneira lenta e com dificuldades, entre as quais o uso corrente da língua portuguesa.
Recém-chegados, os imigrantes italianos procuravam aprender algumas palavras em português para conseguir sobreviver, mas raramente procuravam os brasileiros para se comunicar, fator que dificultava sua integração social. Demorava muitos anos para que o imigrante se adaptasse ao novo ambiente social, aprendendo a conviver com os usos e costumes do país hospedeiro. Apesar de sentir saudade de sua pátria, os italianos procuravam deixar sua condição de imigrantes para se tornar cidadãos brasileiros. Mesmo assim, os italianos foram alvo da xenofobia, postura que incitava a desconfiança e os conflitos sociais. Inúmeros são os casos de discriminação e intolerância para com os italianos imigrantes. [...]
As novas gerações favorecem a integração dos italianos na sociedade acolhedora, transmitindo a seus pais e parentes os conhecimentos linguísticos e culturais adquiridos nas escolas brasileiras. Mesmo assim, procuraram preservar elementos de sua identidade de origem, ainda que o Estado brasileiro tenha procurado, entre os anos de 1938-1945, diluir os traços das nacionalidades
estrangeiras através de um intenso programa pró-assimilação. Basta lembrar o conjunto de leis nacionalistas promulgadas durante o Estado Novo [1937-1945] com o objetivo de reprimir as culturas estrangeiras interpretadas como “fatores de erosão da cultura brasileira”.

BIGAZZI, Anna Rosa Campagnano. Italianos: história e memória de uma comunidade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006. p. 96-98.

Excluído na vida real e idealizado na literatura

Projeto pioneiro foi o de José Bonifácio, apresentado à Assembleia de 1823: “Apontamentos para a civilização dos Índios bravos do Império do Brasil”. Advogava uma política sistemática de aldeamento, preconizava a sujeição dos índios às leis do Estado e sua inserção no mercado de trabalho, e insistia na necessidade de tratá-los com brandura.
Mas o projeto constitucional de 1823 limitou-se a declarar a competência administrativa das províncias na catequese, enquanto a Carta de 1824 sequer mencionou a existência de índios no Brasil. Somente em 1845 viria à luz o Regulamento das Missões, único documento indigenista imperial, que prolongava o sistema de aldeamento, entendendo-o como transição para a “completa assimilação dos índios”. Instituiu a figura do diretor-geral dos índios, um para cada província, mantendo a do diretor de aldeia previsto pela legislação pombalina de 1755-58 e introduzindo o missionário responsável pela “catequese e civilização” dos nativos. Aboliu a possibilidade de “repartir” os índios sazonalmente entre os moradores – uma forma evidente de exploração da mão de obra indígena em áreas de fronteira – e delimitou minimamente o direito indígena à terra, para transformá-lo em “lavrador”, prevendo expropriações caso a terra não fosse cultivada. [...]
A política imperial em relação às populações indígenas contrastava com o lugar que se atribuiria progressivamente ao índio na cultura nacional. No concurso promovido pelo IHGB [Instituto Histórico Geográfico Brasileiro], na década de 1840, sobre “Como se deve escrever a história brasileira a fusão das três grandes raças, encarnadas no português, no índio e no africano. Von Martius dedicou-se muito à contribuição dos portugueses, quase nada à dos africanos, e razoavelmente à contribuição indígena. Por outro lado, no campo da literatura e das artes, o indígena foi cada vez mais alçado à categoria de símbolo romântico da nacionalidade [...]. A contrastar com esta imagem idealizada do índio – via de regra os tupis, cuja população havia praticamente desaparecido no século XIX – erigiu-se a imagem do botocudo selvagem, alusiva, no caso, ao índio real que continuava explorado, por vezes trucidado e raramente contemplado pelas políticas públicas do Império.


VAINFAS, Ronaldo. Indigenismo. In: ______ (Org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 370-371.