O cotidiano indígena é tomado pelas atividades voltadas para a subsistência, como caçar, pescar, plantar, cozinhar – algumas são tarefas masculinas, outras, femininas -, e também para a produção de artefatos de uso doméstico, como cestos, potes em argila, flechas, redes etc.
Quando há ritual, alguns trabalham na confecção, de produtos ritualísticos, como máscaras, coroas, pulseiras, colares etc. Esses produtos revelam status e posição social.
O rigor no acabamento desses produtos é algo que todos da aldeia buscam.
Existem algumas regras para a confecção desses artefatos: alguns devem ser confeccionados por mulheres; outros, por homens; alguns exigem penas de determinados pássaros; a combinação de cores é estudada de forma a aparentar delicadeza etc.
Alguns povos indígenas se destacam em alguns segmentos de produção, como é o caso, por exemplo, dos Kaapor (Urubu), cuja arte plumária é dotada de rara beleza e de primor técnico, principalmente na colagem das plumas e couros emplumados.
Na cerimônia de nomeação de uma criança indígena, os Kaapór fazem questão de usar seus elaborados adereços plumários: diadema, braçadeira, pulseira, brincos, colar etc. Nesse dia a criança recebe um nome do tio materno e depois ela é apresentada à sociedade indígena com seu novo nome e usando um diadema de plumas belíssimo na cabeça.
Outro exemplo de destaque é o trabalho das índias Kadiwéu, que produzem uma das cerâmicas consideradas mais bonitas da arte indígena brasileira. É um trabalho que foi ensinado de geração a geração e feito com um toque muito pessoal. Muitas vezes a mulher Kadiwéu imprime no seu pote de cerâmica o mesmo desenho que faz em seu corpo para os rituais.
O trabalho é todo delas: elas mesmas apanham a argila, carregam, amassam e moldam com as mãos, transformando-a em potes, vasos, peças utilitárias em forma de animais etc., tudo envolvido por um colorido próprio, de tons quentes, com grafismos contornados por tinta branca.
Seria impossível falar aqui sobre toda a riqueza da arte indígena brasileira, citar a produção de todos os povos, mas seria possível afirmar que quem pesquisa esse assunto sempre se depara com a beleza, o aprimoramento técnico e a riqueza de significados da arte produzida pelos mais de duzentos povos indígenas do Brasil.
(BRIOSCHI, Gabriela. Arte hoje. São Paulo: FTD, 2003; p. 92)
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